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Uma guerra – Infraestrutura educacional!

Goiânia – No artigo intitulado Uma guerra! clique aqui para ler, apontamos que o Brasil vive uma guerra contra a educação, e tal guerra tem reflexos diretos no PIB e na situação social, e que ainda, de acordo com o relatório da OCDE(Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), publicado em fevereiro de 2018, os estudantes brasileiros, no ritmo atual, podem demorar mais de 260 anos para atingir os níveis de proficiência em leitura dos países melhores colocados e 75 anos para atingir os níveis em matemática. Neste artigo vamos continuar avançando para detectarmos os pontos de melhoria da educação, mais especificamente com relação a Infraestrutura educacional.

Para onde olhar?
Vamos analisar os resultados obtidos nos relatórios da OCDE versus a infraestrutura oferecida pela rede pública, ao realizarmos tal procedimento, chegaremos a uma breve análise de recursos educacionais que impedem as escolas de fornecer um ambiente adequado de aprendizado. O sistema de referência será composto pelo Censo Escolar do MEC e pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da OCDE, sendo que este último, é um programa contínuo, que sob visão de longo prazo tem por objetivo o desenvolvimento de uma base de informações educacionais para o monitoramento de conhecimentos e habilidades dos estudantes – definição da própria OCDE. O PISA é designado ainda, como o instrumento externo de referência na avaliação de aprendizagem de estudantes brasileiros da Educação Básica conforme consta na estratégia 11 da meta 7 do Plano Nacional de Educação.

Uma questão de infraestrutura!
Para analisarmos a infraestrutura e sua relação com os resultados obtidos, adotaremos os indicadores abaixo, construídos a partir do Censo Escolar juntamente com o índice de Recursos educacionais da OCDE:

  1. Escolas sem laboratórios de ciências;
  2. Escolas sem quadras de esporte;
  3. Escolas sem salas de leitura ou biblioteca;
  4. Escolas sem sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado;
  5. Escolas sem dependências adequadas às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida;
  6. Escolas sem recursos computacionais para uso educacional;
  7. Escolas sem internet banda larga.

Sabemos que quando falamos em infraestrutura devemos ir muito além, mas esbarramos no fato de que pelo Censo Escolar não é possível identificar o estado de conservação e muito menos o número de horas trabalhadas efetivamente em cada indicador quando for o caso.

Ao utilizarmos estes indicadores procuramos analisar a infraestrutura mínima que a escola precisa oferecer aos alunos, tanto para o desenvolvimento de atividades que potencializem o aprendizado, bem como, o quão a escola está preparada para receber a comunidade, servidores e alunos com deficiência ou mobilidade reduzida. Utilizaremos ainda, dados do Brasil e do Estado de Goiás, este ultimo por me ser familiar e por apresentar um dos melhores desempenhos no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos últimos anos.

Vamos aos números!
De acordo com os dados do último Censo Escolar publicado temos que 71,70% das escolas públicas brasileiras não possuem sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado, em Goiás este número é de 63,18%; 57.89% das escolas não possuem dependências ou vias adequadas às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzidas, em Goiás o número é de 48,23%; 6,74% das escolas brasileiras são escolas sem internet, em Goiás o número é de 3,70%; 2,15% é o número de escolas sem recursos computacionais no Brasil, em Goiás o percentual é de 0% (zero); no Brasil 13,69% das escolas reportaram que não possuem sala de leitura ou biblioteca, em Goiás 12,86%; 56,79% das escolas do Brasil não possuem laboratório de ciências, em Goiás 68,01% e por fim 24,32% das escolas no Brasil não possuem quadra de esportes, este número em Goiás é 33,60%.

Já no relatório da OCDE, quando analisamos o percentual de estudantes cujos diretores reportaram “muito” ou “até certo ponto” às questões sobre a falta de recursos educacionais, os maiores problemas identificados se relacionam à: Falta de infraestrutura física adequada ou de má qualidade, Falta de material educativo ou até mesmo a inadequação dos mesmos.

É só investir mais?
A questão não se resume somente em mais investimentos, é preciso investir certo! O investimento deve chegar de fato aonde deve chegar, deve beneficiar o aluno, o professor e a escola primordialmente. Isso pode ser facilmente explicado pelo orçamento do MEC que nos últimos anos foi multiplicado por três, mas os resultados não se concretizaram. Continuaremos abordando o tema nos próximos artigos rumo a uma educação com excelência e equidade.

Ralph RangelRalph Rangel é ex-superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e especialista em Educação

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/104783/uma-guerra-%E2%80%93-infraestrutura-educacional

Uma guerra!

Goiânia – Quando falamos em guerra, a primeira imagem que vem à mente é um cenário de desolação total, com vidas ceifadas e a infraestrutura, prédios e lares totalmente devastados. Sabemos, ainda, que a experiência em conflitos militares impacta diretamente as economias dos países envolvidos. Para se ter uma ideia, a Guerra da Coreia (1950-1953), que matou mais de 1,2 milhão de pessoas também reduziu o PIB do país em 60%, e o mesmo acontece com a Síria, no Oriente Médio, desde 2011.

É claro que o Brasil não vive uma guerra contra outro país, vive na verdade uma guerra contra a educação, e essa guerra tem impactos relacionados com os problemas do presente e com o futuro do país. De acordo com o último relatório da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), publicado em fevereiro de 2018, os estudantes brasileiros, no ritmo atual, podem demorar mais de 260 anos para atingir os níveis de proficiência em leitura dos países melhores colocados e 75 anos para atingir os níveis em matemática.

E isso é uma tragédia!
Tivesse o Brasil atingido as metas, ou seja, o êxito na universalização da educação com qualidade, o PIB per capita poderia ter sido 70% superior ao atual, e entre 2030 e 2095 o PIB per capita poderia ser sete vezes maior.

E por que isso não acontece?
Antes, é preciso mencionar em linhas gerais, que o PIB per capita corresponde à soma das taxas de crescimento da produtividade do trabalho, da taxa de ocupação e da taxa de participação, e que a produtividade é a relação entre insumos e produtos; aumentar a produtividade significa fazer mais com a mesma quantidade de insumos, e a alta produtividade é alcançada através da formação da mão de obra e da aplicação tecnológica.

Vivemos um círculo vicioso e perigoso, pois, com o baixo nível educacional, a economia quando não estimulada por planos mirabolantes anda em ritmo lento, já que não é sustentável, e todos os atores são afetados; as empresas obtêm lucros menores, a renda distribuída em salários aos trabalhadores cai, o consumo cai, consequentemente o comercio investe menos inibindo a produção industrial, que por não ter desenvolvimento e pesquisa motivado pela baixa capacidade educacional fica estagnada e não inova.

Todo esse ciclo afeta também o poder público já que a arrecadação também cai, culminando numa diminuição dos investimentos em infraestrutura, educação, segurança e saúde por exemplo.

E por que isso acontece?
Porque o Brasil investe pouco e investe mal na educação!

O Brasil gasta anualmente aproximadamente US$ 3,8 mil por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até a 5ª série), a cifra representa menos da metade da quantia média paga por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8,7 mil. O primeiro país da lista gasta US$ 21,2 mil.

Um alento!
A reforma na educação aprovada em 2016 reduziu o número de disciplinas obrigatórias, ofertando mais opções e mais espaço de personalização do conteúdo letivo para estudantes com menos inclinação acadêmica. E isso foi um grande avanço!

Ainda, de acordo com o relatório, entre os anos 2003 e 2012, o Brasil melhorou os recursos educacionais de suas escolas em 0.63 no índice de qualidade dos recursos educacionais, um dos maiores aumentos entre todos os países e economias. É importante mencionar que os jovens de 15 anos no Brasil tendem a apresentar um melhor desempenho em leitura digital do que em leitura impressa, o que significa que aqueles que têm acesso a um dispositivo digital estão comparativamente bem preparados para participar desta nova era. Mas isso é pouco!

Desafio!
O grande desafio é a criação de políticas públicas nacionais que respeitem as particularidades regionais para aprendizado de qualidade e em escala, com fonte de financiamento perene e flexível, culminando assim, num sistema educacional ágil, inovador e capaz de se adequar aos desafios do futuro com envolvimento e participação de todos.

Ralph RangelRalph Rangel é ex-superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e especialista em Educação

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/104172/uma-guerra