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Pacto Global Educativo


Uma educação de, com e para todos.
Rumo a uma sociedade
mais fraterno, solidário
e sustentável

Juan Antonio Ojeda Ortiz,
Manuel Jesús Ceballos García e
Beatriz Ramírez Ramos (coords.)

No dia 12 de setembro de  2019, Papa Francisco emitiu uma mensagem convocando lideranças mundiais para o que denominou de Pacto Global Educativo.

Na mensagem, reafirmou o necessário cuidado com a “nossa casa comum” já alertado na carta encíclica Laudato si’. O cuidado, afirma, se fará a partir de uma “nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora”. 

O Pacto Global Educativo, é um chamado do Papa Francisco, para todas as instituições educativas e as pessoas de boa vontade se empenharem e se comprometerem com a educação, como forma de mudanças de paradigmas e trilhar novos caminhos educativos, onde educador e educando dialogam e interagem, em um processo de mútua aprendizagem, numa dinâmica de aprender – desaprender – reaprender.

A iniciativa do Pacto Global Educativo visa uma educação que saiba ser portadora duma aliança entre todos os componentes da pessoa. Uma aliança entre os habitantes da terra e a “Casa Comum”, para garantir a vida as gerações futuras e uma aliança que gere relações de paz, justiça, solidariedade e respeito entre todos os povos, raças e religiões.

No Pacto Global Educativo, todas as pessoas, instituições e grupos são chamadas a dar vida e espírito a todos os processos educativos formais e informais, numa compreensão que pessoa e natureza/criatura, têm valor igual e complementar, pois “tudo está intimamente conectado e interligado, numa ecologia integral.

Adiado diversas vezes por conta da pandemia pelo covid-19, na ultima semana de julho de 2020, o Pacto foi finalmente liberado, e para nossa grata surpresa, a professora Ester Carvalho contribuiu de forma brilhante com o grupo de trabalho e sua contribuição pode ser vista na página 127.

Faça o download do livro clicando aqui.

**A Professora Ester Carvalho é graduada em história e em Direito, mestre em Educação e tem especializações nas áreas de Direito Processual Civil, Direito Internacional e Comércio Exterior, Gestão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Foi nomeada Conselheira no Conselho Estadual de Educação em 2009, onde exerceu as funções de Presidente da Câmara de Legislação e Normas, e de Vice-presidente. Nos anos de 2016-2017, atuou como Presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação – FNCEE, hoje conhecido como Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação – FONCEDE.

Pacto Global Educativo - Ester Carvalho
Pacto Global Educativo – Ester Carvalho

Cinco

Até o descobrimento da Austrália, em agosto de 1770, de acordo com a visão eurocentrista, as pessoas do velho mundo acreditavam que todos cisnes eram brancos, bastou o contato com um cisne negro na Austrália para todo sistema de crença cair. O escritor Nassin Nicholas Taleb transportou essa questão lógico-filosófica para a realidade, e a denominou de evento “cisne negro”, que basicamente é um evento que impacta definitivamente a vida de todos, de forma coletiva ou individual.

Um evento cisne negro é composto por três atributos: primeiro, ele é um outilier, já que está fora do âmbito comum; segundo, o evento exerce um impacto extremo; terceiro, apesar de ser outlier, a mente humana faz com que explicações racionais surjam para dar explicações ao evento.

Um evento cisne negro pode ser causado, como exemplo, a criação do iPhone – sim eu sei, podem ter criado algo parecido um pouco antes, mas não como o iPhone – e o evento pode ser inesperado, como é o caso de uma pandemia, o coronavírus.

O mais incrível desta história toda é que mesmo com toda massa de dados, toda tecnologia, não foi possível prever nenhum dos dois eventos citados na hora certa. Observe como age um outilier, em 2007 nenhum especialista do ramo das telecomunicações apontaria a Apple como a empresa que mudaria completamente o mercado, por certo, elegeriam a Nokia, Samsung, Sony, Ericsson, Motorola, LG entre outros.

“Interpretamos o mundo de forma errada e dizemos
que ele nos engana”

Rabindranath Tagore, Pássaros errante

Quando se está dentro da máquina, não se percebe como o mecanismo funciona, sabemos que o mundo não será mais o mesmo, seja nas relações profissionais, nas relações pessoais ou nos costumes. Mas não sabemos o quão diferente será, e para alguns, a sensação é de que não mudará nada.

“A teoria da aleatoriedade é fundamentalmente uma
codificação do bom senso. Mas também é uma área de
sutilezas, uma área em que grandes especialistas
cometeram equívocos famosos e apostadores
experientes acertaram de maneira infame.”
 

Leonard Mlodinow, O andar do bêbado – Como o acaso determina nossas vidas

O nosso cérebro age de três formas ante a fatos que somos submetidos: primeiro, a ilusão da compreensão, ou seja, achamos que compreendemos o que está acontecendo; segundo, a distorção da retrospectiva, ou seja, com base em determinada experiência, achamos que podemos organizar e criar uma nova realidade; e finalmente, a supervalorização da informação adquirida, o seja, o que adquirimos de informação vale para criar um novo padrão.

E assim, muitos, por tentarem criar um padrão, acabam com desempenho pior do que uma cobaia, já que a capacidade de fazer avaliações e de tomar decisões certeiras diante a eventos cisne negro requer uma habilidade diferenciada, a intuição.

“Todos começamos com o ‘realismo ingênuo’, isto é, a
doutrina de que as coisas são aquilo que parecem ser.
Achamos que a grama é verde, que as pedras são duras
e que a neve é fria. Mas a física nos assegura que o
verdejar da grama, a dureza das pedras e a frieza da
neve não são o verdejar da grama, a dureza das pedras
e a frieza da neve que conhecemos em nossa
experiência própria, e sim algo muito diferente.”

Bertrand Russsell

Outro fator a ser compreendido é que não podemos distinguir entre o desejo e a realidade no nosso cérebro, não falo de fantasia, e sim de um desejo real, profundo e sem conflitos, que pode criar a realidade. Imagine se Steve Jobs tivesse abandonado as suas ideias ao perder a Apple para John Sculley? Disso vem: Por quanto tempo o evento cisne negro, pessoal ou não, pode atuar e como reagimos? Com relação ao tempo nada se pode afirmar, já com relação ao comportamento, faço analogia com os estudos de Elisabeth Kübler-Ross, uma psiquiatra suíça, pioneira nos estudos sobre a morte e os momentos finais, principalmente em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, escrito em 1969:

Fase 1, a negação “Não, comigo não, isso não é verdade”. É comum nesta fase, acreditarmos que o exame de sangue foi trocado, ou, que é importante consultar uma segunda opinião. Em se tratando de uma empresa, é possível que surjam dúvidas sobre o mercado, “o produto era perfeito, mas, lançamos na hora errada”. Um empregado pode pensar, “Eu era o melhor colaborador, não é possível, como eles farão sem mim?”.

Fase 2, a raiva “Pois é, aconteceu comigo”. É nesse momento que vem o sentimento de raiva, de revolta e ressentimento, na sequência surge a pergunta lógica: “Mas por que aconteceu comigo?” Nessa hora ninguém presta, o médico não sabe medicar, o chefe é um incompetente que não soube explorar todo meu potencial, ou, essa turma não sabe fazer nada, etc. Geralmente os familiares, ou, enfermeiros são alvo constante da raiva.

Fase 3, a barganha “Meu Pai, se for possível, afasta de mim esse cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”, Mateus 26:39. Essa é a terceira fase, e é menos conhecida, talvez por ser ela muito íntima. Buscamos por algo maior, por uma força que possa nos salvar, empresas investem massivamente o pouco que têm em marketing e propaganda, promessas são feitas aos colaboradores, o marido promete melhorar ante a ameaça da esposa que pede a separação, o moribundo faz promessa de caminhar até determinada localidade por toda vida em troca da salvação.

Fase 4, a depressão “O silêncio e a introspecção”. Quando não há como negar a fase terminal, todos os outros sentimentos darão lugar a um sentimento de grande perda, de que muita coisa vai ficar para trás. “Com quem vai ficar meu filho?”, “O que vou fazer com os débitos da empresa?”, “Como vai ficar a fatura do cartão?”

Fase 5, a aceitação  “Do que adianta?”. Quem não sofreu o impacto súbito ou inesperado atingirá um estágio que não haverá raiva nem depressão, estará tão cansado e fraco que nada mais importará. Não se trata de um desânimo resignado ou sem esperança, é a certeza que não dá mais, sem qualquer expressão, não se pode confundir com desapego ou felicidade.

A esperança, Chego ao término deste artigo exausto, já que vivenciei mentalmente tudo que escrevi, a nossa mente age assim. Lembrei do meu pai, da minha mãe, ambos falecidos, revivi cada fase e atesto, como afirmam os especialistas, que a esperança está presente em todos momentos. Após a libertação de Auschwitz, foi encontrado na parede de um dormitório o texto que compartilho e acredito ser a expressão máxima da esperança:

“Amanhã fico triste, Amanhã.
Hoje não. Hoje fico alegre,
E todos os dias, Por mais amargos que sejam, 
Eu digo:Amanhã fico triste, Hoje não.
Para hoje e todos os outros dias!”    

Autor desconhecido

Ralph Rangel é especialista em tecnologia e educação, foi Superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás
Esse artigo foi escrito ao som de All I Want, de Sarah Blasko.

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/132360/cinco

A Educação em tempos de pandemia

Um forte debate tem se desenrolado nas escolas, lares, meios de comunicação e nas redes sociais sobre como proceder com relação a aulas, ter ou não ter aulas em decorrência da pandemia do coronavírus (covid-19), e, em caso de suspensão das aulas por um período, o que deverá ser feito? Considerar tal período como férias antecipadas ou simplesmente excluir o período do calendário escolar?  

Tudo tem um começo!

Para os menos familiarizados explico que a Educação Pública e Privada é regulamentada pela LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação, Lei número 9.394 de 20 de dezembro de 1996 e que vem sofrendo alterações no decorrer do tempo.   

O que diz a lei?

A LDB, em seu Capítulo II, Seção I – Das Disposições Gerais, Artigo 23 determina em seu parágrafo 2 que “O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta lei”, ainda, o Artigo 24, item I define: “a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para ensino fundamental e médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;”, essa redação foi dada pela Lei número 13.415 de 2017.  

Traduz por favor?

Ao ser criada, a LDB determinou que a flexibilidade é um dos seus principais mecanismos, que foi pautada para assegurar a autonomia escolar, mas, que exige a regulação do sistema de tal forma que a qualidade do ensino seja garantida. Desta forma, o planejamento e a execução das atividades do ano letivo, devem ocorrer, sempre que possível, atentando as conveniências de ordem climática, econômica ou outras que justifiquem a medida, sem redução da carga de oitocentas horas anuais.    Fica claro assim, que é dever dos gestores educacionais, seja ele na escola ou na rede, organizar o calendário, de tal forma que as horas mínimas sejam praticadas.   

Tá, mas e o vírus?

O vírus é uma questão de saúde pública e é dever de cada cidadão se prevenir e observar os orientações e regulações dos órgãos de saúde dos governos, e, é dever do Estado garantir a saúde da população.   

A escola é um ambiente seguro?

Não, quando se analisa os dados registrados no censo escolar, percebe-se que os serviços públicos de saneamento não são universalizados, ou seja, 11% das escolas públicas e privadas no Estado de Goiás não possuem água encanada de via pública, somente 53% das escolas possuem rede de esgoto conectada à rede pública, que a coleta de lixo periódica não ocorre em 6% das escolas, que 6% das escolas não possuem sanitários dentro do prédio principal e que 67% das escolas não possuem sanitários fora do prédio principal. E não existem profissionais capacitados em saúde nas escolas, o risco de contágio em ambientes assim é altíssimo.  

Então é só liberar os alunos e professores!

Não, os governantes e gestores não podem executar ações isoladas para o enfrentamento da pandemia, no caso da educação, é preciso observar que muitos alunos da rede pública só se alimentam, ou fazem a sua principal alimentação na escola, e, o seu fechamento poderá gerar outros problemas de cunho social, como a fome e o aumento da miséria e da criminalidade. Há ainda, os casos em que os pais precisam trabalhar e contam com o apoio das escolas para deixar seus filhos enquanto trabalham, e o fechamento das escolas geraria também um grave problema de ordem econômica.  

É o fim?

Deste artigo sim, de tudo não – e quanto ao grau de evolução da pandemia eu não faço ideia! – os governantes, a sociedade civil e os segmentos organizados da sociedade precisam em conjunto encontrar soluções para o problema, e espero que cenários como este, possam contribuir para que os cidadãos escolham melhor seus governantes já nas próximas eleições e que os eleitos cumpram o que foi determinado na carta magna do país.     

*Ralph Rangel é especialista em educação e tecnologia e foi superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás.

Artigo originalmente publicado no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/131043/a-educacao-em-tempos-de-pandemia

O meu chapéu não é de palha

O meu chapéu não é de palha, eu gosto mesmo é de chapéu de couro, me sinto mais bonito, mais poderoso, ele está sempre comigo, até quebrei o regimento – e olha, podem falar o que quiser de mim – nunca me chamarão de ladrão.  

Comigo é assim, eu mando e desmando. É a minha vontade que vale!

Quer ver uma coisa? Mulher minha senta é no meu colo, achou ruim? Problema seu, eu não sou ladrão!  

Tempos atrás vi um tanto de mulher bonita, pensei, só pode ser dama da noite! Eita, que eu não vou ficar só pensando não, vou é falar – Tem um monte de prostitutas por essas bandas de cá – falei bonito né?  

Pros-ti-tu-ta, aquele outro nome é bem feio!  

Sou representante do povo, vim de uma cidade com quase vinte e quatro mil habitantes, lá tem leite pra daná, acabei crescendo demais, me deram uma tal de imunidade, por isso eu falo o que quiser, e na casa tem de tudo, por lá eu acho que faço sucesso, tem uns que até riem!   

Vocês vão desculpando o meu português, eu não sou bom nessas coisas não, só não falem que sou ladrão, porque, isso eu não sou!  

Já me falaram que tenho o estilo de coronel, daqueles antigos, não gosto não, prefiro o estilo do John Wayne, é mais moderno, ainda mais ele montado naquele cavalão bonito, revolver na cintura, chapelão de couro!

Outro dia, durante uma fala minha, me questionaram. Ah! Quem eles pensam que são? Ô povo ignorante! Querem respeito? Tem que dar respeito antes, ainda se dizem da educação – que vão tomar banho na soda, se quiserem falar comigo tem que ser lá fora, não sou bostinha não, sou é muito homem, estão achando o que?   

Para esse tipo de gente eu dou é pé na bunda!   Esses escravos de migalhas querem o quê? Comigo é assim mesmo! Tenho medo não, eu sou a Casa Grande, eles são a Senzala!  

Beijo proceis!  

*Ralph Rangel
é especialista em educação e tecnologia e foi superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás.

Artigo originalmente publicado no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/126995/o-meu-chapeu-nao-e-de-palha